sexta-feira, 31 de julho de 2015

Medos Maternos


Medos Maternos

A maternidade traz consigo alguns medos que quase ninguém tem coragem de verbalizar. Medos secretos. Guardados nos cantos mais escuros do nosso coração. Eu experimentei vários deles e vou contar aqui! Vou contar porque se eu soubesse que outras mães sentiam também, talvez eu não tivesse sofrido tanto.

Tive meu primeiro filho solteira, aos vinte anos, cursando o 4º semestre de Direito. Primeiro medo foi o do próprio exame. E se desse positivo? Deu. Engraçado que no dia fui tomar sorvete com o Tito, um grande amigo, e falei pra ele assim:

- Se eu adivinhar o peso, é porque vai dar positivo. E advinha? Acertei! Gelei! Cacete! E agora?

Aí veio medo de contar para os meus pais, da família, dos julgamentos, de não conseguir criar, de não conseguir sustentar, de como faria para estudar e de tudo que estava por vir. Eu tinha uma necessidade de dizer sempre, quase que como um mantra, que ainda namorava o pai dele e que ele era muito presente, e de fato era e ainda é.

Ah! E tinha até o medo do parto, que melhorou um pouco o dia que a Tia Carmelita falou pra mim assim:

- Filha, tá aí, vai ter que sair, paciência!

Parei de ter medo do inevitável. Viu como verbalizar pode ser a solução?

Na 37ª semana, a ecografia detectou uma redução no líquido amniótico, tive uma equivocada indicação para cesárea. Mais um medo. Ele nasceu muito bem. Era uma noite de sábado, a equipe falava da novela O Rei do Gado, tão absurdo. Um momento tão ímpar na minha vida e na vida dele e nenhum respeito, nenhuma conexão emocional. Mas mesmo assim foi uma emoção incrível ouvir seu choro, realmente indescritível. Eu falei com ele encostado no meu rosto, quentinho... ele parou de chorar e ficamos ali juntinhos.

Outra coisa que mãe nenhuma fala, achei ele feio. Estranho. Ele estava ali na minha barriga me fazendo companhia por quase 9 meses, mas seu rosto não me era familiar, ele era um estranho. Pensei logo, meu Deus, sou a única mãe no mundo que acha seu filho feio! Mas não, eu não sou a única a pensar isso.

Tudo correu bem até a alta hospitalar. Aos doze dias de nascido, ele foi diagnosticado com meningite neonatal. Medo da morte, da sequela, do hospital. Graças a Deus, ele ficou muito bem. Mas sofri mais uma vez com a desumanizada medicina. Primeiro, foi uma peregrinação por hospitais até vir o diagnóstico correto que, diga-se de passagem, foi dado por telefone pelo pediatra que até hoje nos atende, e depois ficar por 15 dias em um hospital ouvindo grosserias de médicos.

A segunda gravidez veio 11 anos depois, dessa vez planejada. Já no resultado um medo: será que eu seria capaz de amá-la como eu amava o Bruno? Passei os nove meses sofrendo com isso. Será que nenhuma mãe de mais de um filho não podia ter me dito isso? Poxa vida!

A gravidez foi difícil, tive sangramentos e dores, foram quase os nove meses de repouso. Medo de perde-la, de ter algum problema de saúde...

Nasceu. Imediatamente, ao ouvir seu choro tive certeza que uma mãe tem a plena capacidade de amar em igual intensidade quantos filhos tiver. Dessa vez não estranhei tanto o rosto dela, eu já sabia que seria uma cara inédita e me preparei pra isso, mas também a achei feia!

Ao contrário do que foi com o Bruno, a amamentação nos primeiros dias foi difícil. Achava que já sabia tudo e a pega errada feriu minha mama. Medo de não amamentar. Pânico. Meu marido sugeriu tirar o leite e darmos em um copinho. Para mim uma ofensa! Eu daria conta! Ele a colocava no meu peito enquanto minha irmã segurava minhas costas. Quanta dor! Até a primeira consulta com o pediatra e ele corrigir a pega, que alívio! O mesmo santo do diagnóstico do Bruno.

Seis anos mais tarde, já tinha desistido do terceiro, durante uma negociação para a compra da nossa casa, desconfiei da gravidez. Tonturas e enjoos bem familiares apareceram. Escondi por dois dias do marido, achei que influenciaria nas tratativas da casa, já que a que morávamos não nos caberia mais. Quando ele me ligou avisando que iríamos ao cartório assinar a escritura contei: acho que estou grávida. Era véspera do aniversário de 16 anos do meu mais velho.

Os medos agora eram outros: medo de ter filho aos 37 anos, da reação da Maria Elisa, da saúde do bebê. Esse foi o principal ponto! Cresci ouvindo dizer que ser mãe depois dos 35 era um perigo! Ouvi tanto, mas tanto, que fiz uma jura de nunca ter filho depois dos 35! Aí vem Deus e mostra que quem manda é Ele!

Cuidei da alimentação, evitei fadigas e até de dirigir! Queria o sonhado parto natural, mas o sistema me venceu. Ele nasceu numa segunda-feira, havia algo em torno de 15 dias sem dormir com contrações ritmadas, nenhuma dilatação. Não tive medo da cirurgia. Ele nasceu e tomada pelo medo não o ouvi chorar. Vendo o filme depois vi que ele chorou sim! Acho até graça quando lembro disso! Como assim não ouvi aquele choro tão claro? Fui tomada de terror, pedia a Elias que ficasse com ele, vigiasse, acompanhasse. Tudo bobagem! Ele nasceu ótimo e enorme.

Ainda no centro cirúrgico, a primeira tentativa de impedir a amamentação. Exigiram meus exames de HIV para me entregar o bebê para mamar. Ora! Tivessem pedido antes da cirurgia! Esperamos por 3 horas no hospital antes de irmos pro centro cirúrgico! Ainda bem que tínhamos todos conosco e ele mamou ainda na primeira hora. Já no quarto, a pediatra no plantão me avisa ter prescrito uma fórmula infantil porque ele era muito grande e precisaria de complemento. Já avisei logo de forma incisiva e definitiva que não via necessidade e que não daria. Fui inclusive ameaçada de não ter alta, o que nada que um aviso sutil que sou advogada não tenha resolvido.  

As crianças foram conhecê-lo no hospital. Foi tudo perfeito e emocionante! Nunca vou esquecer pela primeira vez os três reunidos. Mas essa calmaria me trazia medo. Como poderia tudo ir tão bem? Com os outros dois eu tive questões importantes na gravidez e nos primeiros dias com Samuel tudo era calmo. O medo só aumentava. Uma dose de insegurança e paranoia mesmo e até mesmo culpa! Ninguém teria uma vida tão perfeita! Casa nova, filhos felizes e saudáveis, emprego razoável, saúde em dia... bobagem! Todos merecem essa janela de felicidade na vida.

Olhando de longe, vejo que aprendi que todos precisam de uma fase de vida de comercial de margarina e que tudo bem ter medo. Todo mundo tem, só que a maioria não conta nem pro espelho, a culpa e o medo não deixam.

Aos três meses do Samuel veio o diagnóstico de alergia alimentar múltipla: leite de vaca, soja e ovo. Medo. Muito medo. Meses de dieta para seguir a amamentação e aos 17 meses do Samuel a alergista sugeriu iniciarmos os testes de reintrodução. O medo foi tanto que tive quase 30 dias de diarreia, tive de tratar com probiótico. Quatro meses depois a confirmação de que ele havia adquirido a tolerância oral pra ingestão do leite de vaca.

E os medos seguem. Uns acabam, outros são substituídos. Cada fase tem seu medo, seu risco. Medo de não ir bem na escola, medo de que eles não sejam aceitos e respeitados, medo da violência, medo da vida. A maternidade é assim, repleta de inseguranças e medos. O medo é normal, não nos torna mães piores. Falar sobre isso nos ajuda, faz ver que não estamos sozinhas e que muitos desses medos são bobagens, são exatamente como aquela sombra no quarto escuro que quando acendemos a luz temos o alívio de ver que não é um fantasma, mas é só um vestido fora do lugar.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Férias- Parte III

Em Ubatuba



Depois da impressionante Flip, partimos pra Ubatuba, meio órfãos de Paraty. Aliás, não conhecemos nada de Paraty, o evento nos consumiu de tal forma que não visitamos nada. O plano pro ano que vem é ou ficar uma semana depois ou ir uma semana antes pra turistar na região.

Então, seguimos pra Ubatuba. Praia no frio! Foram 83km entre Paraty e Ubatuba. E dessa vez os golfinhos não nos deram o ar de sua graça. Como todos os hotéis, o de Ubatuba Elias escolheu e reservou.  O GPS nos indicou um caminho por dentro da cidade e, diga-se de passagem, um caminho bem longo. O fato é que nunca chegava. Eu e o BH já estávamos trocando olhares tensos. Chegando já na saída da cidade, o GPS indicou pra virarmos à esquerda num lugar bem esquisito. Gelei. A estrada era de terra e bem estreita, passava a caminhonete e só. A frase já estava ensaiada mentalmente:

- Não desço nem do carro!

Que bom, eu estava errada. Apesar do lugar ser longe e a entrada esquisita, o hotel Porto di Mare era ótimo. Fica na praia da Enseada, uma praia muito bonita. O quarto conjugado era bem decorado, novo e cheiroso. A vista era incrível.

Como já era fim da tarde, nos arrumamos pra missa. O site da Arquidiocese dava conta de que a missa na matriz seria às 19:30hs. Como não sabíamos andar na cidade, saímos com bastante antecedência. Providência divina! A missa começaria às 18:30hs.

A Igreja já estava relativamente cheia, mas ainda conseguimos um bom lugar. A equipe de música tocando várias músicas conhecidas e as pessoas meio agitadas, olhando nos relógios. De repente, entra um homem correndo na Igreja e várias pessoas rindo e nós, lógico, sem entendermos lhufas. O cantor avisou:

- O Frei chegou!!!

O Frei, depois de, como o The Flash, entrar na sacristia e vestir a batina, pegou o microfone e falou:

- Preciso confessar, estava assistindo ao filme Transformers e esqueci da missa! Pra compensar vou fazer uma homilia de 2h!

Toda a assembleia riu e o Frei foi pro final da nave pra começar a celebração. E que celebração! Deus é bom!

De lá fomos procurar onde jantar. Eu vi algumas opções no Guia 4 Rodas e fomos pra orla. Lá tem várias opções de restaurantes. Escolhemos um italiano que tinha um violonista tocando, o Spaghetto. Comida perfeita, atendimento excelente e preço mediano. Valeu a pena.



Na segunda-feira fomos ao aquário da cidade alimentar os pinguins e ver os tubarões. É um aquário pequeno, mas bem cuidado e bonito. Foi muito legal.

À tarde, brincar no parque na orla e depois projeto Tamar ver e alimentar as tartarugas marinhas.

Encerramos nosso passeio em Ubatuba lanchando em uma padaria (gourmet) também na orla.

Terça-feira, destino Campinas-SP, rumo à gravação do DVD Acústico ao Vivo 2/3 do Rosa de Saron e visitar meus primos Kallen, Vanessa e Valentina. Foram 300km de estrada bastante tranquila.
Dessa vez já sabíamos que seria o pior hotel da viagem, segundo o Tripadvisor e o Booking. Já começou a encrenca pra chegar, quando nem o GPS conseguia se localizar naqueles zilhões de marginais e curvas de mãos e contramão. O Nacional Inn é um hotel antigo e voltado ao meio corporativo, o que aliás foi um choque pra quem vinha de casa de parentes e pousadas pequenas. O atendimento sisudo e até mesmo antipático. Pra guardar o carro na garagem tinha taxa extra e as chaves deveriam ficar com o manobrista, mas com o absurdo alerta que o hotel não se responsabiliza pelos itens no interior do veículo! Ah, vá! Lógico guardamos na garagem e não deixamos a chave nenhum dia com eles.

Seguimos pra casa do Kallen e da Vanessa, onde fomos recebidos com todo amor do mundo! A ideia era lanchar com eles e acabamos ficando até 11 da noite! Conversa boa, muitas risadas e um macarrão delicioso feito pelo Kallen. As crianças se acabaram de brincar. De tudo um pouco, até fizeram os respectivos papais frequentarem o “salão de beleza e estética facial” que montaram especificamente pra eles!

Na quarta-feira, o show! Acordamos cedo e fomos rumo a Valinhos, cidade colada em Campinas. O show foi na sede da TV Século 21. Atraso de horas. Passamos o dia à base de pão de queijo e água... mas valeu a pena. O show foi muito bom. Produção perfeita, repertório, participações especiais... ao ponto do BH dizer que não sabe se quer ver o DVD e perder a memória do show!

Quinta-feira, depois do café da manhã, seguimos pra Araxá, onde a proposta seria descansar pelos últimos 4 dias de férias. Estrada tranquila. 505km. Chegamos do meio pro final da tarde. Ficamos no Tauá Grande Hotel e Termas de Araxá. Atendimento primoroso!

Havíamos lido nos sites de avaliação que por ser um hotel muito antigo, que não esperássemos um hotel cheiroso, mas foi exatamente o que encontramos. Tudo muito limpo e arrumado. Os itens que não estavam incluídos nas diárias, que são de pensão completa, tinham preço justo. Os funcionários muito bem treinados, simpáticos e solícitos. Aliás, não à toa, os crachás traziam abaixo de seus nomes a expressão “Emocionadores”.

A área do hotel é de um parque, o Parque do Barreiro, então ficamos ali curtindo a natureza. Até pica-pau nós vimos!

O hotel conta também com uma equipe de animação para as crianças, os Taualegres. Os tios são incríveis, ao ponto de Maria Elisa chorar ao se despedir!

Aqui, um parêntese. Me causou alguma estranheza a jornada de trabalho desses tios. Chegavam sempre muito cedo, por volta das 9h e ficavam até encerrar as atividades, por volta de 22h.

Enfim, fechamos nossa viagem com chave de ouro! Tivemos sim alguns contratempos, mas optamos por valorizar o que foi realmente bom. Ficamos 16 dias juntos quase que 24h por dia. O resultado? Saudades de casa, da nossa cama, da família, muitas histórias pra contar e principalmente planos. Planos pra quê? Pra próxima viagem, claro!


*** Fim ***

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Férias Julho 2015 Parte II - Flip

Férias- Parte II
Em Paraty

 
Seguimos para Paraty sem saber muito o que nos esperava. A Flip sempre me pareceu um evento muito maneiro, mas não tive nenhum tempo e nem vontade de pesquisar como realmente funcionava. Minha atração pelo evento que, aliás, motivou essa viagem, era puramente visual. Todas as reportagens me traziam a imagem de uma biblioteca a céu aberto com muitas pessoas interessadas em ler.

Os 563km que separam Jaú e Paraty foram muito tranquilos. A Serra do Mar entre Taubaté e Ubatuba encanta, especialmente a nós brasilienses acostumados que somos com as retas e planos. A estrada é realmente linda!

Passando por Ubatuba é possível ver o mar. Como diz o Nemo: o mar, imenso e azul. Como sou uma boa menina, os golfinhos apareceram pra nos saudar! Lá de cima os vimos pulando. Não dava pra ser diferente, gritei! Ainda bem que todos estavam acordados e depois do meu escândalo puderam ver os bichos também. Fantástico!

Logo na entrada de Paraty uma marina com lanchas e iates muito bonitos, já dava pra ver o mar. Um pedaço do mar com cara de rio. Nada demais para quem conhece as praias do Nordeste. Seguimos para a Pousada Magnus. Pousada simples, mas com atendimento e localização excelentes. Aqui abro um parêntese, a localização da pousada possibilitou que ficássemos cinco dias sem carro, o que aliás recomendo muito.

Em Brasília não se caminha. Coisas simples e rotineiras dependem das rodas. Padaria, almoço no trabalho, banca de revista, missa...  mesmo quem não precisa, vai de carro. Vai porque foi condicionado a isso: ir de carro. Não há o hábito da caminhada. Aqui somos reféns das rodas. Talvez pelo medo da violência urbana que a grande mídia divulga o tempo inteiro ou quiçá pelo “status” de desfilar com um carrão pela cidade. Transporte público por aqui? Um fiasco! Nem merece fazer parte da pauta, destoaria da alegria do texto.

O fato é que sempre que vejo um filme onde as pessoas vão aos restaurantes, trabalho, cinema, padaria a pé sinto grande inveja. Sempre que viajo e posso, caminho, sigo a pé e lembro de Luiz Gonzaga cantando... ”artomover lá nem se sabe se é home ou se é muié”...

Voltemos à Paraty.

Pois bem, além da ótima localização da pousada, as ruas da parte antiga de Paraty são todas de pedra e em forma de canal, andar é o único jeito. Não transitam carros e até a pé requer atenção. Andar mexendo no celular em Paraty devia ser esporte olímpico!

Chegamos do meio pro final da tarde e fomos procurar onde comer. A cidade estava relativamente vazia, mas a aura da Flip já pairava por ali. A arte estava na rua. Tinham índios, músicos, poetas, escritores, atores todos fazendo sua arte ali mesmo, nas esquinas, praças e rua. Pessoas livres para serem aquilo que acreditam que devem e querem ser, sem preocupações profundas ou análises críticas que são verdadeiras pedras de tropeço na nossa vida. Gente de todo tipo. Tão loucos quanto sãos.

 Almoçamos no Café Paraty, atendimento mais ou menos, comida regular, pouca, muito demorada e cara. Lógico, não voltamos mais, almoçamos e jantamos quase todos os dias no Galeria do Engenho, bom atendimento, comida digna, preço justo.  Após o almoço que virou lanche, voltamos pra pousadas e saímos de novo mais tarde para aproveitar a Flip.

 A Flip tem eventos acontecendo por toda a cidade. A pousada nos entregou um livreto com toda a programação e o mapa da cidade destacando os locais de evento. Debates, shows, peças teatrais e recitais de poesia por toda a cidade. Há uma mesa principal montada ao lado do rio Perequê-açu e do mar. Chamada Tenda dos Autores, lá acontecem os principais debates e é o único lugar onde o ingresso é pago. Do lado de fora dessa tenda, há um telão para transmissão ao vivo com muita qualidade de som e imagem, tem também fones disponíveis para tradução simultânea. Próximo a essa tenda há um café e a livraria oficial do evento, a Travessa.

Na praça da Matriz é montada a Tenda da Flipinha, onde eventos voltados para a criança acontecem e onde ficam as lindas árvores de livros. Os eventos não se limitam a esses lugares, nas livrarias, capelas, casas e restaurantes acontecem eventos todo o tempo. Há também espaços montados pela Folha de São Paulo, pelo Sesc e pela própria organização da Flip.  

É fascinante andar pela rua e ver as pessoas falando sobre cultura, ouvindo e falando poesias, escritores vendendo seus próprios livros numa coragem assustadora. A todos que pude parabenizei e me arrependo de não ter comprado todos, só pela disposição do cara em sair do óbvio e ir à luta.

Óbvio, que por estarmos com Samuel e Maria Elisa participamos dos eventos bem de leve, revezando entre eu e Elias e indo muito mais aos infantis também. Já o Bruno que nunca havia acordado cedo espontaneamente em viagens, participou intensamente de tudo que o interessava. Tinha dia que perdia até o café da manhã da pousada. Mas realmente os debates valiam à pena. Muito leves e acessíveis, ao mesmo tempo profundos e atuais.

Na Tenda da Flipinha vimos vários espetáculos muito interessantes, como a peça Felinda da Carroça de Mamulengos, um grupo com a formação basicamente familiar e fascinante. No domingo, participamos de uma ciranda na praça com eles também. Na mesma tenda vimos rodas de capoeira, contação de histórias com Tino Freitas e também de uma escola local contando uma história indígena.

Na Espaço Sesc vimos uma exposição de fotos e todos os dias Maria queria ir ver a contação de histórias folclóricas. Momento pobrice: lá tinha um café bem bacana com tudo livre.

Um evento em específico merece destaque: um recital de poesia com a Elisa Lucinda e o poeta inglês Lemn Sissay na Capelinha. Elias ficou com Samuel, entramos eu, BH e Maria. Eles recitaram separadamente e por fim dividiram uma poesia. Foi incrível! O lugar lindo, pessoas concentradas no evento e eu não entendendo nem metade do que ele falava. Meu Deus! Meu inglês enferrujou! Até que ele diz que mesmo quem fala inglês como sua primeira língua não entende tudo que ele fala! Ufa!!! Todos riram. Por certo, ele não falava só de sua dicção, mas também de sua mensagem. A Elisa, ah, Elisa! Genial com sua brasilidade, sua verdade, sua firmeza, seu humor! Até Maria Elisa se emocionou. Foi perfeito. Saímos extasiados.

 No sábado, a cidade já bem cheia, foi mais complicado porque choveu e a temperatura caiu um pouco. Andar com as crianças ficou complexo, voltei pra pousada e Elias e Bruno ficaram pra mesa sobre reportagens policiais no México e a que seguiria com Arnaldo Antunes e Karina Brhum.

Lanchei com as crianças numa tapiocaria ao lado da pousada, o dono sempre mexia com as crianças quando passávamos. Os meninos quiseram suco de manga, o cara pegou a manga da fruteira, lavou e fez o suco! Que delícia!

Depois do lanche, fomos pro quarto que num passe de mágica virou um mar revolto e o beliche um navio pirata com rede e tudo! Aviões, espadas, chapéus e navios foram construídos com uma revista repetida que recolhi pela cidade para trazer pro papai. O mais legal que absolutamente sem querer, o chapéu da Maria teve como destaque o título: Revolução Francesa. Foi muito divertido!  

Domingo dia de despedida, a cidade já esvaziada, Bruno caiu da cama  mais uma vez, Elias foi arrumar o carro e eu fui pra praça com as crianças. A cada rua uma peça, uma poesia e nós ali absortos com tantos encantos. Chegando na praça, como diria papai, taquei o rabo no chão tão tacado que rasguei a calça jeans na altura dos dois joelhos! Doeu! Maria logo pediu pra fazer a reza que sempre quero fazer quando ela cai, tradição familiar dos Freitas ensinada de geração pra geração:


"Carne quebrada, Osso rangido, Raposa velha do cú frangido! "

Passado o susto fomos pra roda! Que maravilha a cultura popular brasileira! Com joelhos doendo, fomos dar a última volta na cidade e entramos na Livraria das Marés, não olhei preços, mas a livraria vale a visita. Nos fundos tem um café adorável! Eu gostaria de uma assim por aqui...

E, à essa altura, não posso me omitir, um evento de elite. Um evento onde brancos ricos e estudados transitam pra todo lado arrotando seu português bem divido. Poucos são os negros do lado de fora dos balcões, poucos estudantes, excetos algumas excursões de escolas locais, poucos ambientes com a palavra franqueada democraticamente.  Um ponto a se melhorar. E aqui um salve às cotas raciais!

Mas chegou a hora de seguir viagem, a Flip acabara e já não erámos os mesmos. Uma viagem como essa muda toda sua forma de pensar a diversão, as férias. As malas cheias de livros de escritores que antes nunca me interessei, cheia de inspiração, cheia de exemplos dos bravos artistas de rua e por tudo aprendido e vivido por aquelas ruas de pedra. A questão é que pra julho do ano pensava em outra viagem, outro sonho, mas de fato a vontade de voltar pra Paraty é impressionante!

Seguimos pra Ubatuba, certos de que "é Deus que nos faz entender toda poesia!" mas isso é assunto pro próximo post!

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Sobre a morte da Lola, cachorrinha da Maria

"A morte é a única certeza da vida"
"Tudo que é vivo morre"
"Descansou" 
"Sinto muito!"
 
Frases feitas que sempre ditas quando se perde alguém.
A questão é que só se fala pra romper o silêncio. Só por dizer. Nenhuma delas ameniza nada, ajuda em nada, a não ser saber que a pessoa que disse talvez se importe com sua dor. Talvez seja só protocolar.
A morte de fato é a inevitável, a única certeza. 
Duro mesmo é ver seus filhos descobrirem a dor da perda. 
Aqui começamos pelos animais de estimação, o que de certo modo, me faz agradecer a Deus.
Sim, acabamos de perder a Lola, filhote de labrador da Maria Elisa. 

Aqui abro um parêntese antes que o mimimi desvairado comece:  não, não estou comparando a perda de um animal com a perde de um parente ou um amigo, jamais faria, mas perder um bichinho também dói. 

Voltando... Já havíamos perdido outros cães antes. Quando Bruno tinha a idade da Maria perdeu a Lilica e agora, há coisa de um ano e meio  perdemos o Lino e o Hulck. Foi duro contar pra ela e foi duro pra ela ouvir. 

Lembro que o Lino, um dachshund meio anti-social, estava até bem, aparentando só algum cansaço e foi pro veterinário pra aproveitar a carona do Hulck que estava tratando um câncer na pata. Lino nem voltou...morreu na mesma noite. Até hoje sem muitas explicações. 

Maria teve uma reação inesperada, ficou brava com Deus, chorou a beça. Conversamos muito e tudo de ajeitou. 

Na semana seguinte, Hulck amputaria a perna, não resistiu. Ele era um bulldog francês que veio morar  conosco após a separação de um casal conhecido. Um cão leal e muito inteligente. Lá vamos nós de novo contar pra ela. Foi mais fácil. Ela o via chorar de dor, a ferida era exposta.

Passado um ano da morte de Hulck, veio a tão esperada "cachorra menina" que ela sempre pediu. Quando a Luna veio cruzar com o Loque, ela já escolheu o nome, seria Lola.
 
A Lola veio pra casa bem miudinha é muito esperta, já latia e subia escada. Sabida qual a dona. Foi crescendo e fazendo as traquinagens próprias de filhotes: comeu a casinha, rasgou um lençol, implicava com o Loque e mordiscava tudo que via pela frente.
 

Já no primeiro dia a parvovirose a derrubou. Ficou molinha mesmo com poucos episódios de diarreia. Elias a levou pra clínica assim que suspeitou da parvo. No mesmo dia. Provavelmente,  o vírus veio com ela, mesmo vacinada. Um outro filhote da mesma ninhada teve também. A veterinária deu esperanças. Mas aos poucos Lolinha foi debilitando. Foram 4 dias de internação mas ela não aguentou. Fizemos de tudo.

Maria hoje acordou mais tarde, está de férias. Eu esperei ela tomar café da manhã e também papai ir embora, ele veio nos visitar, afinal ele não precisava presenciar isso. O dia estava frio, escuro. O Loque, como que soubesse, latia no canil.
Reuni forças, respirei fundo, rezei pedindo sabedoria pra conseguir contar.
A chamei pra sala, estava com um pijama de calças compridas e com olhos inchados de dormir. Me olhou nos olhos. Queria ter podido não contar, mentir, sumir...mas não seria certo. O certo é sempre a verdade.
Com uma voz fraca, quase que um sussurro, coração disparado finalmente saiu:
- Filha, a Lola...
Nem pude terminar a frase e ela já chorava.
As frases me vieram à boca, aquelas do começo do texto, mas calei, o colo e o abraço seriam mais sinceros.
 

domingo, 19 de julho de 2015

Férias Julho 2015- Parte I

Férias Julho 2015- Parte I

O Embate

Há muito tempo Elias fala em viajar de carro e eu reluto. Imagina! Cinco pessoas enfiadas em um carro por horas seguidas e até dias! Estradas ruins, poucos lugares bons para parar no caminho, enfim, nada me parecia atrativo. Por outro lado, há viagens que só funcionam bem de carro e a que eu queria fazer era uma delas.

Uma vontade antiga: desde a primeira edição da Festa Literária Internacional de Paraty-Flip, eu tenho muita vontade de ir. Para Paraty não há voo comercial e, portanto, a viagem deveria ser feita de carro.  

Assim a fome e a vontade de comer se casaram. Iríamos de carro à Paraty.

 

O Planejamento

Começamos o planejamento bem de leve, pouco falávamos sobre o assunto. Um turbilhão de coisas aconteceu nos dias que antecederam as férias, o que foi decisivo para reduzir a TPF – tensão pré-férias – que sempre me assola. Além disso, diminuíram o planejamento e a expectativa, que contribuiu sobremaneira para que a viagem fosse perfeita.

Sem conversas demoradas ou longos debates sobre roteiro, hotéis e malas, a viagem foi se delineando. Tudo o mais objetivo possível, na maioria das vezes via iMessage ou WhatsApp mesmo. Sim, mesmo sendo casados e trabalhando no mesmo lugar, foi virtualmente mesmo.

Como a viagem até Paraty é longa, teríamos de planejar dormidas, especialmente por conta das crianças. Decidimos passar em Itumbiara-GO onde temos parentes e é uma cidade que, incrivelmente, é sempre caminho! Itumbiara e Paraty por alguns dias foi só o que conseguíamos vislumbrar. Bruno pouco se pronunciou, se limitou a verificar na faculdade se era possível perder a última semana de aula.

Mas o tempo ia passando e precisávamos fechar o roteiro. Foi quando, umas 2 semanas antes da viagem, eu vesti minha super cara-de-pau e abri um tópico pedindo dicas sobre o interior de São Paulo, caminho que faríamos para Paraty, em um grupo de alergia alimentar (Tips4APLV), off topic hard! Lá tive várias informações valiosas e fomos fechando nossa rota.

Pra completar, soubemos que na semana que estaríamos ali pelo interior de São Paulo, seria gravado o segundo DVD Acústico ao Vivo do Rosa de Saron! E agora? O que faríamos nos dias restantes? E nos dias entre os eventos?

A ideia foi fechar em trechos pequenos que durassem em média 5 horas de estrada e passando por cidades que tivessem algum atrativo. Somando a providência divina e as dicas do Tips, fechamos assim: Itumbiara-GO, Jaú-SP, Paraty-RJ, Ubatuba-SP, Campinas-SP e Araxá-MG.

Roteiro fechado, checamos previsão do tempo, preparamos as malas para a tão aguardada jornada! Sem esquecer de comunicar ao banco a viagem, evitando bloqueios de cartões, revisão do carro e passatempos pra estrada.

Em Itumbiara-GO

No sábado cedo, malas prontas e estrada rumo a Itumbiara. Nessa cidade, moram minha tia Adair e meu Tio Josafá. A tia nem estaria lá, estava em Vitória passando alguns dias com minha prima Andréa. Mas o Sérgio e a Alessandra, também meus primos, nos receberiam e também encontraríamos tio Josafá.

A cidade fica a 400 km de Brasília, com o trecho todo duplicado. Pegamos a estrada no primeiro dia de cobrança de pedágio. O mais legal do caminho Brasília-Itumbiara é uma lanchonete deliciosa, o Jerivá. Comi, depois de alguns anos, coxinha e pastel de queijo! Quaisquechoro! (Os entendedores entenderão.) Chegamos em Itumbiara ainda para o almoço.

Como sempre, fomos recebidos com muito carinho pelos primos. Era sétimo dia de morte do pai da Alessandra e pudemos participar da missa com eles, o que pra nós foi muito importante.

Conhecemos a dona “mãe da prima”, a Dona Oneide, uma pessoa inteligente, atenciosa e de humor discreto. E, ia esquecendo, conhecemos também a Lady e a Lassie, duas cadelas bem bonitinhas, uma legal e a outra ranzinza... Lassie deu umas latidas pro Samuel, que nem se abalou! Quem corre de Capitu[1] não se abala com Lassie!
 

Depois de um almoço muito gostoso e um papo melhor ainda com a presença do Tio Josafá, fomos à festa junina da cidade, o “Arraiá”, onde nas vésperas o cantor sertanejo Cristiano Araújo havia feito seu último show. Tudo muito organizado e bacana. A festa montada na Beira Rio com uma estrutura enorme. O lanche foi uma comida inédita pra nós, o caribó (espécie de pastel aberto). Experimentem!

Ao lado da festa, havia um parque de diversões desses itinerantes e, lógico, Maria pediu pra ir. Gente, foi muito divertido! Ela foi na Montanha-russa (pequena e com cadeiras decoradas com abelhas), tobogã, carrossel e bate-bate. Foi uma noite inesquecível! Exaustos, com os pés cheios de poeira e alma lavada com as bochechas doendo de tanto rir, fomos pra casa.

Segunda-feira, segunda etapa da viagem. Caímos da cama e tomamos rumo de Jaú-SP.

Em Jaú-SP

E onde é Jaú? Fazer o que em Jaú? Jaú apareceu no roteiro depois das dicas do Tips, aquele grupo de alergia do Facebook com a preciosa informação: bom lugar pra comprar sapatos!

A estrada de 589km entre Itumbiara e Jaú tem trechos bem bonitos e foi tudo muito tranquilo. Elias muito feliz por estar na estrada dirigindo e eu também feliz. Feliz por estar correndo tudo bem, por ter visitado nossos primos amados e por ele estar tão feliz.

Chegamos por volta de 3 da tarde, fizemos check in no hotel Realce e seguimos pro shopping especializado em sapatos. O shopping tem muitas lojas de sapatos femininos a preços bem acessíveis. Não são sapatos de grife, mas tem coisa boa e barata. Valeu muito a pena. Preciso dizer que fiz a festa? Como antes de ir eu já sabia do shopping, fiz uma lista do que realmente precisava e queria, assim, não me perdi nas várias vitrines e não gastei além do programado.

Pras crianças foi chato e pra nós cansativo, porque tínhamos de administrar a impaciência deles. Querer que uma criança de 7 anos e uma de 2 fiquem horas em um shopping sem se aborrecer não dá, né? Ainda mais crianças que não tem o hábito de frequentar shoppings, a não ser pro cinema.

Pra amenizar a chatice do dia, arriscamos ir ao cinema pela primeira vez com Samuel. Fomos assistir Divertida Mente. Foi muito legal! Ele comeu a pipoca e assistiu ao filme inteiro! E o filme? Ah! Incrível! Todos curtimos muito, especialmente Maria Elisa.

Segundo dia de Jaú a meta era terminar a compra de sapatos, jeans em um outlet da Zoomp e cinema de novo. Dessa vez os Minions. Não recomendo. De fato, o filme rendeu algumas risadas, mas nada demais. Samuel dessa vez não ficou quieto, Elias teve de sair da sala com ele.

Chegamos e encaramos o primeiro desafio: fazer caber nas malas as compras.

O Hotel foi bacana, dentro do esperado. Atendimento bom, bem localizado e confortável. A crítica foi só a porta do banheiro que não fechava direito, era sanfonada de plástico e não prendia.

Na quarta-feira, café da manhã e pé na estrada! Rumo ao destino principal: Paraty! Ah que delícia...

Mas essa história, conto daqui a pouco em outro post.


[1] A pastora branca do Bruno