Em
várias conversas com amigas sobre literatura infantil surge o tema do
“politicamente correto” e “finais felizes”.
-
Chris, esse livro é racista, aquele é homofóbico, esse tem o final muito
triste, aquele tem violência... – e por aí vai!
Sempre
respondo a mesma coisa, e as respostas são perguntas:
-
A intenção é fazer leitura mediada ou dar para criança ler sozinha?
-
Após a leitura, há um bate-papo sobre a história ou vocês simplesmente devolvem
o livro para a estante? - se essa é a opção, escolha muito bem os livros.
O
ideal é ler junto com a criança e conversar depois sobre a história. Aproveitar
para ensinar uma análise crítica, mostrar que nem sempre os livros estão
certos, muito menos seus personagens. E quanto aos finais felizes, pasmem, na
vida é assim, não há somente finais felizes. Vamos falar de livros assim?
Meu
favorito: “Primeira Palavra” de Tino Freitas e Elvira Vigna, publicado pela Abacatte.
O livro conta a história de uma criança de rua de 06 anos, analfabeta e que ama
visitar um sebo de livros. Choca, né?! Foi a minha chance de dizer:
-Filhos,
há crianças sem acesso à escola, abandonas nas ruas, sozinhas. Seria muito bom
se todos tivéssemos escola, uma casa, uma família, não é? – e através dele meus
filhos conheceram uma realidade muito diferente da deles e, partindo disso,
desenvolver empatia por problemas que não os atinge tão diretamente.
No
mesmo rumo, tem o maravilhoso “Papo de Sapato” de Pedro Bandeira e ilustrado
por Ziraldo, editado pela Melhoramentos. Uau! Que dupla, hein? O livro conta a
história de sapatos velhos que se encontram no lixão e que dividem as histórias
maravilhosas de suas vidas. Com um final surpreendente, também muito adequado
para falar de justiça social.
Da
mesma coleção da Melhoramentos, indico “Ponto de vista” da maravilhosa Ana
Maria Machado e também ilustrado pelo Ziraldo. Um livro incrível! Onde duas
crianças vivem na mesma cidade, mas com realidades muito diferentes e tudo muda
com o ponto de vista desses amigos mudam e tomam a mesma direção.
Tem
também os que falam de morte, muito úteis, já que como disse Ariano Suassuna, é
a inevitável, mais dia menos dia eles enfrentarão essa situação. “O avô de
Arthurzinho tocava Moedroca” de Marcus Arthur editado pela Edebe e o “Menina
Nina, duas razões para não chorar” do Ziraldo (olha ele aí de novo!).
Tem
também o “Lino” de André Neves, da Editora Callis, que chegou aqui naquele
projeto de um certo banco. O livro fala da separação, também inevitável. Quem
nunca teve um amigo que se mudou de bairro, de cidade ou que seguiu outros
rumos na vida? Esse livro é lindo! Daqueles de chorar. Não privem seus filhos
dessas emoções tão lindas! Chorem juntos, se emocionem, se abracem, aproveitem
e fortaleçam os vínculos.
Ah!
Peraí! Tem também o da vingativa Toupeira que queria saber quem fez cocô na
cabeça dela, já falei dele por aqui! (http://www.geracaomae.com.br/literatura-infantil/dicas-literarias-da-chris-da-pequena-toupeira-que-queria-saber-quem-tinha-feito-coco-na-cabeca-dela-e-‘o-pum)
e ainda as histórias clássicas das princesas repletas de vaidades e machismo!
Os contos originais de Charles Perrault e dos Irmãos Grimm são quase histórias
de terror e um prato cheio para falar de tantas coisas que precisam ser
apresentadas aos nossos filhos.
Impossível
não falar do tão polêmico Monteiro Lobato, dito racista e com a Emília tão
desaforada e grosseira? Adoro! Aproveito para falar da escravidão, do racismo,
da estrutura da sociedade brasileira, empatia.
Finalizando,
deixo para vocês uma frase do livro “A condenação da Emília, o politicamente
correto na literatura infantil” do Ilan Brenman (o cara dos puns das princesas,
lembram?) que diz “O politicamente correto, por mais paradoxal que pareça, é
irmão da intolerância, primo da violência e sobrinho da burrice.”