quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O frango



Era uma família bem unida. Tanto paterna quanto materna. Sempre se reuniam para intermináveis almoços dominicais. Férias, então, era sinônimo de estarem todos juntos! Aquela renca de primos na mesma casa...

Uma tia muito disposta sempre organizava deliciosas viagens em família. Certa vez que foram pra Maceió de ônibus, voar era pros ricos. 36 horas de estrada, aluguel de casas por telefone, sem as facilidades da internet! Chegando lá a casa era péssima! Um corre-corre, Deus dará... Mudaram de casa.

Em outra ocasião, lá se foram todos passar férias em Balneário Camboriú -SC. Também de ônibus mesmo. Dois, um pra Curitiba e outro pra lá. Um bando de adolescentes, com duas tias. Em torno de 06 adolescentes! Entre eles duas inseparáveis primas. A estrada já era uma festa. As paradas, os passageiros e até o motorista se tornou amigo. Para eles até o ruim se tornava bom! O apartamento não era luxuoso e nem tão perto da praia, mas era o suficiente para eles. No mesmo prédio estavam hospedados outros tantos jovenzinhos que logo se enturmaram.

Na primeira noite, três dos adolescentes foram escalados para ficar em casa com a missão de abrir a porta aos que fossem chegando. Isso depois da viagem e de um dia inteiro de sol e mar. Exaustos e ardendo do sol. Os três deitaram no quarto e ficaram conversando animados sobre o dia. Fechavam os olhos e era como se ouvissem os vendedores ambulantes gritando:

- Cerveja, coca e água! Batataaaaaaaaaa!

Falaram, riram e renderam-se ao sono. Opa! A função não era abrir a porta? Pois é... Os outros companheiros de viagem chegaram, bateram, gritaram, tocaram a campainha, acordaram o prédio inteiro, menos os meninos que estavam irredutíveis nos braços de Morfeu! Solução: chamar um chaveiro. Imaginem só, numa cidade de veraneio e tarde da noite? Difícil e caro.

Após aberta a porta, uma das tias entra preocupada no quarto e acende a luz e é surpreendida com a frase:

- Mãe, apaga a luz! Estamos dormindo!

E essa foi só a primeira aventura deste verão! Os dias se passaram ensolarados e alegres e em um deles a tia determina:

- Hoje vocês não vão à praia na parte da tarde. Vamos ficar em casa.

Como não? PRECISAMOS ir à praia todas as tardes! E as tais duas inseparáveis primas inconsequentemente pedem pra descer e decidem ir à praia dar uma olhadinha! Gente, o mar é encantador, não existe dar uma olhadinha quando a praia mais próxima fica à 1.200 km da sua cidade. Foram ficando, pediram pro moço do milho verde cuidar do chinelo e chibum! Banho de mar  a tarde inteirinha!

Lógico que quando chegaram em casa as tias estavam de cabelo em pé. Loucas da vida para saber onde as duas tinham ido parar. Um preocupação imensa! Foi um baita sermão e um merecido e inusitado castigo:

- Hoje as duas mocinhas ficarão sem lanche e só poderão descer por 30 minutos!
Silêncio sepulcral! Imagine só! Adolescentes sem lanche? Ah! Sem lanche não dava mesmo. E agora? As duas tinham solução pra tudo e não seria diferente agora. Logo, logo maquinaram uma saída. Havia uma padaria na esquina do prédio, podiam descer por 30 minutos e uma delas tinha dinheiro. Ótimo! Correram pra tal padoca!

O óbvio ululante seria as duas fazerem um rápido lanche e voltarem correndo pra casa, mas esse dito óbvio não fazia parte da vida delas. Tal qual cachorro, as meninas se encantaram pelos frangos assando. Saborosíssimos sem fome, veja lá com fome. Talvez fossem enfeitiçados. Mas como fariam para comer tudo em apenas os 15 minutos que faltavam? Não poderiam desobedecer mais uma vez! Colocaram as brilhantes cacholas pra funcionar, afinal a necessidade é a mãe de todas as virtudes, e voalá! Decidiram como fariam. 

As camisetas das duas eram bem folgadas, era moda se usar presa na bermuda na parte de traz e solta na frente, levariam nas camisetas. Pediram, então, que o frango fosse dividido em dois, colocaram dentro das camisetas na parte da frente e pra não queimar a barriga e disfarçar colocaram as duas mãos como que rodando na barra das blusas. Subiram as escadas e passaram pela sala sorrateiramente, disfarçando o frango e segurando as risadas. Entraram no quarto, fecharam a porta e NHAC!!! Com certeza o melhor frango da vida delas!

Até hoje não se sabe se a tal tia fingiu que não viu ou se o plano funcionou bem. O fato é que até pouquíssimo tempo esse segredo foi muito bem guardado...

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